O que é História
O que é história?
História é um vocábulo de origem grega que significa “conhecimento por meio de uma indagação”. Ele deriva de histor. “sábio” ou “conhecedor”. São muitas as definições que se fizeram dessa ciência. O historiador francês Marc Bloch definiu a história como a ciência dos homens no transcurso do tempo; o francês Lucien Febvre, também historiador, destacou que a história é o processo de mudança contínua da sociedade humana.
Segundo o brasileiro Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, escritor e lexicógrafo, história é a “narração metódica dos fatos notáveis ocorridos na vida dos povos, em particular, e na vida da humanidade, em geral”. Já para o historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Holanda, a história “é o estudo do que os homens do passado fizeram, da maneira pela qual viviam, das ideias que tinham”.
De acordo com os conceitos citados, podemos concluir que a história é o estudo que os pesquisadores fazem dos homens do passado, mostrando como viviam e o que realizaram os povos que nos precederam. É importante deixar claro que história não é a soma dos acontecimentos do passado, mas o resultado das várias pesquisas feitas sobre esse passado. Em outras palavras, o esforço intelectual para compreender e explicar como era a vida em outros tempos.
Existem muitas outras definições de história e diversos modos de conceituá-la. No decurso da obra teremos a oportunidade de ver várias interpretações em ação.
O aparecimento da grafia mudou radicalmente a forma como podemos analisar o passado. Documentos escritos, mesmo quando parecem sem importância, como uma lista de gastos com a manutenção de um engenho de açúcar do período colonial brasileiro, nos fornecem valiosas informações, como o tipo de alimentação, as possíveis causas de doenças da época, entre outras características. Quando articulados com outras fontes, documentos desse tipo ajudam a montar um panorama mais completo da época estudada.
Grande parte das fontes históricas materiais é encontrada em instituições públicas ou privadas, tais como museus, arquivos, universidades, igrejas, galerias de arte e outros espaços. Esse conjunto de fontes materiais é denominado patrimônio histórico e cultural de um povo.
No Brasil, de acordo com o capítulo III, da lei na 25, de 30 de novembro de 1937, órgãos federais, estaduais e municipais são responsáveis pelo tombamento e pela conservação do patrimônio histórico e artístico do país. Entre eles destacam-se o Iphan, órgão federal, os Institutos Estaduais e os Conselhos Municipais, que podem ser de natureza deliberativa ou consultiva.
Entretanto, nem sempre os investimentos públicos são suficientes para a preservação do patrimônio histórico e artístico do país. Muitos projetos de conservação contam com o apoio financeiro de instituições privadas, que em troca recebem incentivos fiscais como a diminuição ou a isenção de certos impostos. Além disso, com essas ações, as empresas ganham credibilidade e a confiança da opinião pública por evidenciar um relativo retorno do lucro das empresas, para a sociedade.
Arqueologia (do grego arque, velho) Ciência que estuda a vida e a cultura dos povos antigos, principalmente pela interpretação de restos materiais encontrados.
Tombamento – Iniciativa de colocar sob a guarda do poder público, para conservar e proteger, os bens (materiais ou não) importantes como produto e testemunho de tradição artística e/ou histórica de um povo ou de uma região. São exemplos de bens culturais: construções, obras literárias, músicas, festas folclóricas e muitos outros.
► Lidando com o tempo
Ao trabalhar com as fontes históricas, o historiador lida também com o tempo. E isso é mais complexo do que parece à primeira vista. Você já deve ter escutado expressões como: estou sem tempo, perdi a hora, o tempo passou e nem percebi.Praticamente, todas as nossas ações cotidianas estão relacionadas ao tempo.
O senso comum tende a considerar o tempo como algo fluido que avança implacavelmente para o futuro, um ambiente dentro do qual os fatos se sucedem. Em outras palavras, o contínuo passado-presente-futuro. Mas as coisas não são bem assim. De um lado porque, como você vai verificar, o tempo histórico nem sempre corresponde ao tempo cronológico. De outro lado, devido à própria dificuldade em definir o tempo de maneira satisfatória. No século V, Santo Agostinho resumiu sua dificuldade para estabelecer um conceito de tempo com a seguinte questão: “O que é, então, o tempo? Enquanto não me perguntam, eu sei; se me perguntam e quero explicar, não sei”.
Isso porque o tempo tal como geralmente o entendemos é a forma como dividimos os períodos de rotação e translação da Terra, estabelecendo as durações dos dias, meses e anos. Entretanto, o tempo também pode ser caracterizado pelos acontecimentos ou costumes que marcam um determinado período e que podem perdurar ao longo dos anos, formando os chamados tempos históricos, que vamos estudar ainda neste capítulo.
> 0 tempo cronológico e os calendários
Os primeiros povos marcavam o tempo seguindo os ciclos naturais, como a alternância entre o dia e a noite, as diferentes fases da lua, o movimento das águas (rios e mares), a posição dos astros e das estrelas no céu e a posição do sol. A observação contínua fez com que eles começassem a marcar as horas, os dias, as melhores épocas para a semeadura, a colheita e as orações, o que deu origem aos calendários. Apesar das diferenças entre os diversos calendários do Ocidente e do Oriente, a maior parte dos povos considerou os ciclos dos astros para determinar e medir o tempo.
O registro do tempo
“Em sua maioria […] os povos têm algum método para registrar e marcar o tempo, fundado nas fases da natureza indicadas pelas variações temporais do clima e da vida vegetal animal, ou em fenômenos celestes revelados por observações astronômicas rudimentares. A computação do tempo, isto é, a contagem contínua de unidades de tempo, foi precedida por indicações temporais fornecidas por ocorrências particulares. […] A fusão do dia e noite numa única unidade de 24 horas não ocorria ao homem primitivo, que os via como fenômenos essencialmente distintos. […] Uma grande variedade de convenções foi usada para estabelecer quando começa a unidade dia. Os egípcios antigos escolheram a aurora, ao passo que babilônios, judeus e muçulmanos escolheram o pôr do sol.”
WHITROW. G. J. O tempo na história: concepções de tempo da Pré-história aos nossos dias. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. p . 28-29. (Coleção Ciência e cultura)
A ampulheta, a lamparina graduada e o relógio são alguns exemplos dos vários modos que o homem encontrou para contar o tempo e tentar controlá-lo.
Medir o tempo tornou-se uma necessidade para muitas pessoas. Os documentos históricos nos mostram que cada sociedade encontrou uma maneira diferente de contar o tempo, de acordo com o seu modo de vida.
Calendários do mundo antigo
“Na China, os anos do calendário chinês ainda são contados a partir do nascimento de Buda. No antigo Egito, onde já existia um calendário bastante detalhado há mais de 7 mil anos, o início do reinado de um faraó é que marcava o início da contagem dos anos do calendário egípcio. Na Grécia clássica, as pessoas se preocupavam com a época de sua primeira Olimpíada, enquanto no Império Romano os anos do calendário eram calculados a partir da data de fundação da cidade de Roma.”
TURAZZI, Maria Inez; GABRIEL, Carmem.
Tempo e história. São Paulo: Moderna, 2000. p. 28.
(Coleção Desafios)
Estabelecer uma medida universal para o tempo não foi uma tarefa simples, mesmo porque a contagem do tempo não foi nem é igual para todas as sociedades. Isso significa que existiam e existem calendários diferentes, pois cada povo estabelece datas comemorativas e quantifica o tempo de acordo com sua crença, cultura e costumes.
Os cristãos datam a história da humanidade tendo como referência o nascimento de Cristo, ou seja, o ano de 2012 representa o número de anos que se passaram desde o nascimento de Jesus. No mundo ocidental, quando se estuda algum fato histórico, é comum utilizar as siglas a.C. e d.C., que significam respectivamente antes de Cristo e depois de Cristo.
Os muçulmanos datam a história da sua civilização a partir da Hégira, evento que marca a fuga do profeta Maomé da cidade árabe de Meca para Medina (também localizada na Arábia) no ano de 622 d.C. Maomé é o fundador da religião islâmica.
Já os judeus datam a história a partir da criação descrita na Torá, que teria ocorrido numa data equivalente a 7 de outubro de 3760 a.C., ao pôr do sol.
“No calendário civil, o dia começa à meia-noite e vinte e quatro horas se contam a partir daí. Já no calendário judaico, o dia começa e termina ao pôr do sol. No calendário judaico, uma pessoa nascida às nove horas da noite de quinta-feira, dia Io– de janeiro de 1981, é considerada como se tivesse nascido na sexta-feira, 26 de Tevet de 5741, que corresponde a 2 de janeiro de 1981. […]”
KOLATCH, Alfred J. Livro judaico dos porquês.
São Paulo: Sêfer, 1997. p. 10.
Em suas pesquisas, muitas vezes os historiadores precisam utilizar medidas de tempo como: o século, o ano, o mês, o dia e, até mesmo, a hora em que determinado fato ocorreu. No quadro a seguir, apresentamos algumas das principais formas de datação utilizadas por historiadores.
Milênio: período de 1.000 anos.
Século: período de 100 anos.
Quartel: período de 25 anos.
Década: período de 10 anos.
Qüinqüênio: período de 5 anos.
Biênio: período de 2 anos (por isso falamos em bienal).
A datação dos fatos da história humana permite ao historiador organizá-los em ordem cronológica. Muitos desses acontecimentos recebem atenção especial dos historiadores por entenderem que são marcos na história de um povo, ou seja, assinalam importantes mudanças na vida daquela sociedade. O tempo que transcorre entre um marco e outro, que sinalizam o fim ou o início de um novo modo de vida, é chamado de período. Chamamos de era o tempo contado depois de algum marco considerado memorável. Por exemplo, no Ocidente vivemos na era cristã, que tem como marco fundamental o nascimento de Jesus Cristo.
Historiadores europeus estabeleceram uma periodização da história que tem como marco inicial a invenção da escrita, que teria ocorrido por volta de 4000 a.C. Tudo o que ocorreu antes dessa data, segundo a divisão europeia clássica, faz parte da Pré–história. Os marcos iniciais de cada período dessa divisão são eventos que esses historiadores consideram fundamentais na organização de um novo modo de vida, característico de um período histórico. Dessa forma, a Revolução Francesa teria sido um marco decisivo para o início da Idade Contemporânea (veja a foto a seguir).
> O cálculo do tempo
Quando você considera uma data qualquer, pode identificar a que século ela pertence por meio de operações matemáticas simples.
Se a data que você estiver examinando terminar em dois zeros, o século corresponde ao(s) primeiro(s) algarismo(s) que está(ão) à esquerda do número analisado. Observe:
Ano 200 a.C.: o ano 200 a.C. está inserido no século II a.C.
Ano 400: o ano 400 está inserido no século IV.
Ano 1600: o ano 1600 está inserido no século XVI.
Quando o ano não termina em dois zeros, basta eliminar a unidade e a dezena que o compõem e somar 1 ao restante do número. Veja o exemplo:
Ano 450 a.C.: século V a.C. (4 + 1 = 5).
Ano 324: século IV (3 + 1 = 4).
Ano 80: século I (0 + 1 = 1).
Ano 1830: século XIX (18 + 1 = 19).
Ano 1998: século XX (19 + 1= 20).
Ano 2012: século XXI (20 + 1 = 21).
Se o fato ocorreu após o nascimento de Cristo, subtraia do ano corrente o ano em que o fato aconteceu. Veja o exemplo:
Em 2012, quantos anos se completaram desde a independência política do Brasil?
2012 – 1822 = 190
Se o fato aconteceu antes do nascimento de Cristo, somam-se as duas datas. Observe o exemplo:
Em 539 a.C., o Segundo Império Babilônico foi conquistado pelos persas. Quantos anos se passaram desde a conquista desse império?
539 + 2012 = 2.551
Portanto, faz 2.551 anos que o Segundo Império Babilônico foi conquistado pelos persas.
Essas regras são fundamentais para o estudo e a compreensão da história, pois essa ciência precisa lidar com o tempo e o espaço.
> Tempo histórico, tradição e mentalidade
Até agora, analisamos as distintas formas pelas quais o ser humano conta o tempo e como essa contagem se relaciona com o modo de vida de cada povo. Porém, o tempo é muito mais do que as horas marcadas por um relógio, ou os dias de um calendário, ou os anos de um século; é também tradição, mentalidade e ritmo.
Na sociedade ocidental, por exemplo, há vários rituais como o Carnaval e a Páscoa (judaica e cristã), entre inúmeros outros, celebrados hoje em dia e que têm centenas de anos de existência. A esses rituais damos o norte de tradição, ou seja, uma reminiscência do passado que chegou até nós pela transmissão cultural dos mais velhos, pelas crenças religiosas, pelos ideais de um grupo, entre outros. A tradição é a memória viva de um evento passado que, por sua importância na vida das pessoas, é perpetuado de geração em geração.
Não só a tradição marca o tempo passado – as gerações também o marcam. Em qualquer sociedade, há uma gradação populacional que vai dos recém–nascidos aos mais velhos.
Cada geração possui a sua própria mentalidade, ou seja, o seu modo de ver e dar significado à vida. Por isso, numa sociedade, assim como em uma família, podemos ter um confronto entre mentalidades ou conflito de gerações. Da mesma forma, podemos ter sobrevivências, na nossa época, de hábitos e ritmos que pertencem a uma outra época e modo de vida, ou seja, em uma mesma época podem coexistir diferentes tempos históricos. Por exemplo, muitos dos pescadores jangadeiros do Nordeste do Brasil usam técnicas de pesca da época colonial e mantêm praticamente o mesmo ritmo e horários de trabalho daquele período, embora incorporados ao mercado capitalista.
Em um mesmo tempo cronológico, podemos observar diferentes modos de vida, como mostra o texto do boxe a seguir.
► Divisão da história ocidental
Quando se organiza a linha do tempo de uma sociedade ou do mundo, temos várias possibilidades de elaboração. Como vimos, o historiador determina os marcos cronológicos que considera mais relevantes por meio de uma pesquisa das fontes históricas, conduzida de acordo com alguns critérios escolhidos pelo especialista.
Em função disso, no Ocidente, tornou-se tradicional seguir a divisão da história baseada nos marcos da história europeia, que tem os seguintes períodos: Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. O marco inicial corresponde à invenção da escrita, por volta de 4000 a.C. Toda a trajetória anterior dos homens, desde o aparecimento do gênero Homo sobre a face da Terra, tem sido tradicionalmente denominada de Pré-história. Essa periodização da Pré-história é baseada em comportamentos culturais que teriam se desenvolvido com o gênero Homo e ainda hoje são compartilhados pelos seres humanos (veia a linha do tempo a seguir). No entanto, esse marco não é consenso entre especialistas: muitos acreditam que a Pré-história teria tido início com o surgimento dos primeiros hominídeos, há cerca de 7 milhões de anos.
Fonte:: História das cavernas ao terceiro milênio, de Patricia Ramos Braick e Myriam Becho Mota
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