Napoleão Bonaparte e a Revolução Francesa
Napoleão: o ato final da Revolução
Desde os primeiros movimentos da Revolução Francesa, os governos absolutistas de toda a Europa colocaram-se em alerta. O perigo representado pelas ideias consideradas subversivas colocava, afinal, em jogo todo o equilíbrio do continente.
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As guerras foram inevitáveis. Ainda mais porque entre 1795 e 1799, a França revolucionária já tinha expandido seus ideais para regiões como a Holanda, a Suíça e a península Itálica.
Mas foi com Napoleão Bonaparte que o expansionismo dos ideais revolucionários atingiu seu ápice: em poucos anos, praticamente todo o continente estaria sob o controle dos franceses. Mas não seria apenas o novo que percorreria o caminho aberto pelas armas. Por ele passariam também muitas das antigas práticas. Sem respeitar as dinâmicas de cada lugar, por exemplo, Napoleão mudou governos, submeteu vontades populares.
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A reação não tardou e começou a despertar outra ideologia ainda nova no continente, o nacionalismo e a defesa da autodeterminação dos povos. Napoleão, obra de Jacques-Louis David, 1801.
Filho da Revolução
Em fins de 1799, o general francês Napoleão Bonaparte, aliado a outros líderes, assumiu o governo da França com um golpe de Estado. O processo revolucionário iniciado em 1789 começava a tomar novos rumos. O poder burguês consolidava-se não apenas na França, mas em várias regiões da Europa e do mundo. A política expansionista de Napoleão levou vários países à guerra.
Napoleão Bonaparte nasceu em 1769 em Ajácio, na Córsega, ilha do mar Mediterrâneo.
Estudou na França, em instituições de ensino militar. Como oficial da artilharia, defendeu a monarquia no processo revolucionário. Em 1791, porém, trocou de lado ao ingressar em um clube jacobino.
Promovido a capitão, participou da retomada de Toulon, cidade ocupada pelos ingleses em 1793, durante a Primeira Coligação. Com apenas 26 anos de idade, comandou forças francesas contra exércitos de países que temiam a expansão da revolução para outras regiões da Europa.
Entre 1796 e 1797, como comandante de artilharia, venceu várias batalhas contra a Áustria e a Sardenha. O jovem oficial tornou-se figura popular na França, sendo aclamado pela população quando retornou a Paris. O prestígio tornou-se ainda maior ao receber o comando de uma campanha militar no Egito, que tinha por objetivo obstruir as rotas comerciais inglesas com a índia.
Golpe de 18 de Brumário
Enquanto Napoleão dirigia suas tropas no Egito, o processo revolucionário completava dez anos. Por toda a França sentia-se o efeito do movimento: instabilidades políticas, problemas econômicos, crises sociais. Disputas intensas pelo poder deixavam no ar uma ameaça constante de golpe de Estado. Nesse cenário, para grande parte da população — sobretudo a burguesia —Napoleão era a esperança para pôr fim ao caos.
Diante do quadro de instabilidade interna, e sabendo que países inimigos preparavam nova ofensiva, Napoleão resolveu retornar secretamente à França em 14 de outubro de 1799. Visto como defensor das conquistas da Revolução e com apoio total do exército, foi aclamado nas ruas de Paris. Ganhou, então, o apoio político dos girondinos.
Poucos dias depois, Napoleão liderou o Golpe de 18 de Brumário, com o qual tomou o poder junto com outros dois aliados. Sua principal promessa era dar estabilidade ao conturbado quadro vivido na França. Nos anos seguintes, porém, acabou com várias das liberdades conquistadas, concentrando poderes.
Ao assumir o poder, Napoleão extinguiu o Diretório e instituiu o Consulado, órgão formado por três cônsules, entre os quais se incluía. Em 1802, com uma nova Constituição, neutralizou o poder dos demais cônsules. Dois anos depois, sem uma oposição política significativa, tornou-se cônsul vitalício; logo depois, recebeu do Senado o título de imperador da França, sendo coroado na catedral de Notre-Dame com o título de Napoleão I.
O governo de Napoleão
Napoleão Bonaparte procurou adotar várias medidas para conquistar a estabilidade.
No plano externo, venceu os austríacos na batalha de Marengo, em 1800, e, dois anos depois, assinou um acordo de paz com a Inglaterra (Paz de Amiens), neutralizando assim as ameaças estrangeiras. No plano interno, um plebiscito garantiu amplo apoio popular ao Consulado e uma nova Constituição, que entrou em vigor em 1800.
Em 1801, firmou uma concordata com o papa Pio VII, resolvendo questões pendentes com a Igreja — as relações estavam estremecidas desde a promulgação da Constituição Civil do Clero, em julho de 1790.
Napoleão conseguiu o apoio tanto dos camponeses, ao entregar a eles terras tomadas do clero, quanto dos nobres emigrados durante a Revolução.
No âmbito da economia, que se encontrava em total desequilíbrio, criou o Banco da França e lançou uma nova moeda, o franco — que vigorou até 2001, quando foi substituída pelo euro, a moeda da União Europeia. Os setores agrícola e industrial receberam financiamentos públicos para que se recuperassem dos anos de guerra. Além disso, foi restabelecida a escravidão nas colônias — o que motivou a guerra de independência do Haiti (como veremos no capítulo 8).
Outra medida importante foi a organização do Código Civil, também conhecido como Código Napoleônico, em 1804. Ele consolidava algumas aspirações burguesas que haviam motivado a Revolução em 1789, como a igualdade jurídica dos indivíduos, mas proibia os trabalhadores de se organizarem em associações independentes.
No caminho da guerra
O crescente poder de Napoleão era visto como uma ameaça pelos governos absolutistas da Europa, como os da Áustria, da Prússia e da Rússia — temiam que, com a consolidação dos projetos burgueses, mudanças semelhantes seriam exigidas em seus países. Já para a Inglaterra e a Holanda, a estabilidade econômica recolocava a França na disputa pela hegemonia no continente e por mercados consumidores.
A situação levou ao rompimento do acordo de paz com a Inglaterra, logo no ano seguinte. A partir de então, sucessivas coligações foram formadas para combater o governo francês.
Bem equipados e treinados, os exércitos de Napoleão conquistaram sucessivas vitórias. Com o apoio da Espanha, decidiram atravessar o Canal da Mancha para invadir a Grã-Bretanha — a Inglaterra, apoiada em uma poderosa frota naval, era o principal inimigo da França. A invasão não chegou a se concretizar: a esquadra inglesa derrotou os franceses em 1805, na batalha de Trafalgar, no litoral da Espanha.
Em terra, os franceses derrotaram prussianos e austríacos em Ulm e Austerlitz. Com isso, o governo de Napoleão extinguiu o Sacro Império e, em seu lugar, formou a Confederação do Reno, mantida sob sua influência.
Até 1810, por meio de várias campanhas militares, os exércitos franceses ocuparam boa parte da Europa continental. Holanda, Espanha e reinos da península Itálica, por exemplo, foram dominados pelo império napoleônico. Em muitos desses territórios, foram impostos soberanos fiéis ao governo francês, quando não algum parente direto do imperador: José Bonaparte, em Nápoles e, depois, na Espanha; Mariana Elisa, na Toscana; Luís, na Holanda; Maria Anunciata, em Nápoles; Jerônimo, na Vestfáüa.
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A derrocada do império
Em 1806, sem conseguir derrotar a Inglaterra, o governo francês decidiu decretar o Bloqueio Continental, com o objetivo de enfraquecer a economia inglesa. Com essa medida, todos os países da Europa ficavam proibidos de realizar negócios com os ingleses ou mesmo receber navios britânicos em seus portos, sob pena de ter seus territórios invadidos.
Em 1807, Napoleão forçou os russos a assinarem o Tratado de Tilsit, pelo qual se comprometiam a aderir ao bloqueio. Sentindo-se prejudicado, o governo russo rompeu o acordo logo depois, e voltou a abrir seus portos aos ingleses.
Em 1811, liderados pelo próprio Napoleão, 600 mil homens do exército francês invadiram a Rússia. Chegaram com facilidade a Moscou e encontraram a capital abandonada. Tratava-se de uma estratégia russa para exaurir o inimigo, valendo-se do vasto território e do inverno rigoroso. Sem suprimentos, os franceses tiveram de bater em retirada em 1812. Com frio e fome, tornaram-se presas fáceis para os russos: cerca de 60 mil soldados apenas, dos 600 mil que haviam iniciado a campanha, conseguiram retomar à França. Derrotado e humilhado, começava assim o fim de Napoleão.
O fim de Napoleão
Nas áreas sob domínio francês foram implantados vários dos princípios consolidados durante a Revolução Francesa, sobretudo os pertinentes à ordem burguesa. Muitos governos absolutistas, assim, acabaram abolidos. A violência do domínio e da ocupação francesa sobre as populações conquistadas, entretanto, fez surgir movimentos de resistência, principalmente na Espanha e na Rússia.
O fracasso da campanha militar na Rússia foi decisivo para o declínio da política expansionista de Napoleão. Os exércitos franceses também seriam derrotados na batalha de Leipzig, em 1813, por uma coligação formada por Prússia, Inglaterra, Áustria e Rússia.
Paris seria ocupada por tropas estrangeiras no ano seguinte. Pelo Tratado de Fontainebleau, Napoleão aceitou deixar o governo francês em troca de uma pensão e do domínio sobre a ilha de Elba, próxima à sua terra de origem, onde deveria permanecer exilado.
A dinastia dos Bourbon, comandada por Luís XVIII (irmão do rei guilhotinado em 1793), foi restaurada no governo francês. O ato não foi bem aceito pela população, o que provocou grande instabilidade política. Meses depois, Napoleão abandonou o exílio e retornou à França, aclamado pela população e com o apoio de seus ex comandados. O novo rei, atemorizado diante da perspectiva da chegada de Napoleão a Paris, fugiu.
Napoleão estava de volta ao poder, no chamado Governo dos Cem Dias. Foi combatido por uma nova coligação (a sétima), formada por Rússia, Áustria, Prússia e Inglaterra. Na batalha de Waterloo, na atual Bélgica, próximo à cidade de Bruxelas, foi definitivamente derrotado. Preso, foi enviado para o exílio na ilha inglesa de Santa Helena, no Atlântico sul, onde morreu em maio de 1821.
Com a derrota de Napoleão, os governos vencedores procuraram restabelecer a ordem vigente na Europa antes da Revolução Francesa.
O marco desse processo foi o Congresso de Viena, realizado na capital do império austríaco, com a participação de representantes de Áustria, Prússia, Rússia, Inglaterra, Espanha, Portugal, entre outros
— incluindo a França, representada pelo ministro Talleyrand. No Congresso, decidiu-se restaurar as antigas dinastias absolutistas, bem como restabelecer grande parte das fronteiras existentes antes de 1789.
No lugar do antigo Sacro Império, surgiu a Confederação Germânica. A Inglaterra recebeu compensações territoriais em várias partes do mundo: a ilha de Malta, no Mediterrâneo; a colônia do Cabo, na África meridional; o Ceilão (atual Sri Lanka), no sul da índia; a Guiana e algumas ilhas do Caribe, na América. Holanda e Bélgica foram unificadas, recriando os Países Baixos. O mapa da Europa e de parte do mundo colonial foi, assim, redesenhado, conforme os interesses dos países vencedores.
Alguns limites, porém, não foram respeitados. A Áustria, a Prússia e a Rússia, por exemplo, ocuparam territórios que não lhes pertenciam na Polônia e na península Itálica.
Onda conservadora
No Congresso, decidiu-se também a criação da Santa Aliança, uma organização para combater tentativas de subverter a ordem, tanto na Europa quanto nas colônias. Ao longo do tempo, a organização atuou em diversos conflitos, como na Confederação Germânica e na Espanha.
A Espanha procurou usar as forças da Santa Aliança para reprimir os movimentos de emancipação nas colônias americanas. A Inglaterra, porém, fez prevalecer o princípio de não intervenção, interessada na independência para ampliar seu mercado consumidor.
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